O livro intitulado “Freguesia de Santo Agostinho – Histórias e Memórias”, escrito por José António de Oliveira Correia, menciona na pag. 73, que a Comissão de Festas de Nossa Senhora do Carmo, foi fundada em 1973, com sede na freguesia de Santo Agostinho.
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O texto que se segue foi retirado do livro do autor acima identificado, intitulado “Moura, Culturas e Mentalidades”, editado em 1997. Foram incluídas algumas actualizações.
“Em Moura, a festa grande, é dedicada a Nª Sr.ª do Carmo e tem a sua origem no séc. XIII, a partir da fundação do Convento do Carmo. Em princípio celebrou-se no dia 8 de Setembro, dia que a liturgia aponta como o nascimento da Mãe de Jesus. Posteriormente passou a realizar-se no 1º Domingo de Outubro, tendo em conta o fim das colheitas e, consequentemente, a disponibilidade que os lavradores tinham de nela participar. Há poucos anos entendeu-se que a festa devia celebrar-se a 16 de Julho, por ser esse o dia de Nª Sª do Carmo. Contudo, face ao calor que nessa altura se regista, foi decidido, que a partir de 1992, a festa voltasse ao mês de Setembro.”
E assim foi até ao ano de 2000, altura em que após auscultação à população, passou a realizar-se no fim-de-semana mais próximo de dia 16 de Julho.
“A festa, seja qual for a data, em que se realize, começa à sexta-feira e termina na segunda-feira seguinte, o que demonstra a sua grandiosidade. São dias de autêntica peregrinação a Moura. Não há mourense que, por muito longe esteja, podendo transpor a distância que o separa da sua terra, não o faça nestes dias, pois a festa sente-se no coração do povo.
Na véspera do dia principal, ao anoitecer, as bandas vão cumprimentar Nª Senhora, dando inicio a uma vigília que perdura pela noite dentro. Cá fora um autêntico formigueiro de gente faz carreiro entre a Praça e a Igreja do Carmo. Todos querem ver a padroeira e rezar a Seus pés, as suas preces.
No entanto, o ponto mais alto da festa, é a procissão, que se realiza no Domingo, a meio da tarde. Encabeçada por seis elementos da G.N.R., devidamente engalanados, montando a cavalo e formando alas, dão inicio a um percurso que começa e termina na igreja de Nª Senhora do Carmo, depois de percorrer as principais artérias da cidade – muitas delas estreitas e sinuosas, de características marcadamente mouriscas: Av. Do Carmo, Praça Sacadura Cabral, Rua Cons. Augusto Castro (modernamente alternando com a Rua Dr. Miguel Bombarda), Rua de Serpa Pinto, Praça Coronel António Maria Batista” (actual Largo de Sta. Clara?), “Rua 9 de Abril, Praça Gago Coutinho (local onde se situa a igreja de Sto. Agostinho e que à passagem do andor da Padroeira”, este é virado na sua direcção e “são tocados os sinos), Rua 5 de Outubro, Rua da República, Rua Dr. Garcia Peres, Cantos de João Mendes, Rua Associação de Socorros Mútuos Santana e Costa (também ela modernamente alternando com a Rua de Arouche), Praça Sacadura Cabral (local onde se situa a igreja de S. João Batista e se procede de igual modo como o referido para a igreja de Sto. Agostinho), Av. do Carmo, e por fim igreja de Nª Senhora do Carmo, enchem-se de crentes para ver passar a Senhora.
Ao guião transportado por três homens, segue-se-lhe o cordão humano, de ambos os lados. Dentro deste e numa ordem hierárquica, vai a 1ª cruz em representação da paróquia de Sto. Agostinho, adiante dos estandartes do grupo de jovens, Sagrado Coração de Jesus e das Festas (transportado a tiracolo pelas festeiras desse ano).
A 2ª cruz, em representação da paróquia de S. João Batista, antecede o andor – ladeado por duas lanternas – com a imagem do Santo Condestável “que daqui levou religiosos desta casa para a fundação do Convento do Carmo de Lisboa, e ficou sendo aquela casa filial deste Convento que era casa Capitular”, é levada aos ombros por elementos do corpo activo dos Bombeiros Voluntários de Moura e da Associação dos Escuteiros de Portugal.
A banda dos “Amarelos” executa marchas adequadas a este acto de fé e precede os pagadores de promessas, caminhando os anjinhos adiante dos festeiros e frente ao andor da Senhora.
O andor devidamente ornamentado com flores – ladeado também ele por duas lanternas e quatro elementos dos Bombeiros Voluntários – transporta a imagem de Nª Senhora do Carmo, que à sua passagem comove os mais crentes. Transportado à saída e entrada da igreja, pelos festeiros desse ano, fica o restante percurso a cargo de populares, que em sistema de alternância se prontificam levar a imagem.”
Atrás do andor, vão-se juntando, à medida que a procissão avança, crentes que engrossam o cordão desta manifestação de fé. Das janelas, à passagem da Padroeira, são atiradas pétalas de flores. De algumas pendem luxuosas colchas e podem ainda ver-se, presas nos efeitos de ferro forjado, um par de velas acesas.
No encalço do andor, segue o palio (seguro por seis homens), debaixo do qual se encontra o pároco que segura entre as mãos um relicário de prata. A banda dos “Leões” executa, ao longo de todo o percurso, um hino dedicado a Nª Sr.ª do Carmo, da autoria do compositor mourense, já falecido, José Francisco Coelho, cuja letra e música adiante se transcreve, e que hoje em dia é cantada com uma letra diferente do original e adequada ao Santo(a) Padroeiro(a) da localidade em festa”.
Mais recentemente o palio e a banda dos “Leões”, passaram a colocar-se à frente do andor de Nª Senhora do Carmo.
“A entrada do andor”, na igreja, “efectua-se com a imagem voltada de costas para o altar-mor, indo ficar alojada num nicho (colocado do lado esquerdo de quem entra), sendo entusiasticamente saudada pelos numerosos crentes, que enchem por completo aquela “casa de Deus”.
Por vezes as ruas são pequenas para receberem tanta gente, pois a fé e o culto a Nª Sr.ª do Carmo é enorme e este fenómeno verifica-se ao longo do ano. É ainda hoje tradição, as mães irem oferecer os filhos à Senhora, colocando-os no altar, quando começam a dar os primeiros passos, para que Ela os proteja pela vida fora.
De igual forma procedem as noivas na oferta do ramo nupcial, no dia seguinte ao do matrimónio, para que Ela bendiga o casamento.
As festas de Nª Sr.ª do Carmo, em Moura, são das mais importantes que se realizam a sul do País. A sua grandeza e a forma como são vividas, representam manifestação de enorme fervor e devoção religiosa. Há em toda a sua liturgia um encanto e uma beleza a que ninguém pode ficar indiferente.”
“Dai valer a pena fazer uma visita a Moura especialmente por esta altura.”
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